sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

MOVENDO!




Nunca fugi de um desafio; enfrentá-los sempre foi minha auto-afirmação. A vitória me soa bem. Mas, essa é uma batalha que não vou travar: não vou lutar contra o tempo. Não mais.
Não vou correr até o ponto para não perder o ônibus, não vou perder a noite de sono virando a madrugada,  não vou gastar cada minuto atualizando a página da minha caixa de entrada. Não mais. Vou deixar a chuva molhar meus cabelos ao invés de correr da tempestade, Vou aproveitar cada minuto antes da separação, vou rasgar os rascunhos, vou parar de planejar o futuro. Taparei os meus ouvidos para não ouvir o choro de adeus. Assim como encaixotei meus pertences, dividirei meu coração em pequenas caixinhas, mas vou mantê-las tampadas pois sei que não resistiria à tentação de dar uma última avaliada em meus sentimentos.
E por mais egoísta que sooe, é momento de olhar para mim. Sem julgamento e sem expectativas. Quanto mais lembranças ficam para trás significa que estou indo cada vez mais para frente.

SÍNDROME DE PETER PAN!


Um dia a gente já brincou na lama, teve medo de monstro, acreditou no Papai Noel, no Coelhinho da Páscoa, na Fada do Dente. Fez perguntas indiscretas para os adultos, bagunçou o quarto, se divertiu assistindo desenho animado. Bebeu suco de maracujá, comeu biscoito recheado, bolo de cenoura, sorvete e chocolate até dizer chega. Fez castelo de areia na praia, acampou com os amigos, dormiu na casa dos avós. Fez festa de  aniversário de boneca, princesa, fada.
Levou bronca do pai, da mãe, do irmão mais velho, da professora. Ficou de castigo por semanas e semanas, e quase sempre foi perdoado antes do prazo. Gastou todo o dinheiro da mesada com chiclete, e levou mais uma bronca por isso. Caiu de bicicleta, patins, skate. Ralou o joelho, quebrou o braço, tem quatro pontos debaixo do queixo. Brincou de pique-esconde, pique-pega, pique-tudo-que-se-possa-imaginar. Imaginou um mundo onde todas as pessoas eram felizes e tinham o poder de voar. Vestiu uma capa feita de lençol e tentou voar. Inventou um amigo imaginário, mudou o nome dele.
Quis mudar nosso próprio nome. Jogou video-game até cansar. Fez aula de karatê, natação, balé. Calçou o sapato da mãe, andou pela casa toda borrada de batom, querendo ser adulto por um dia.Mal sabíamos o que era, na verdade, crescer. Ter responsabilidades, horários, prazos. Pensar na vida, resolver problemas. Problemas muito mais complicados do que a matemática, que parecia ser o pior dilema do mundo, na quinta série. Me faz lembrar da história de Peter Pan, o menino que vivia na Terra do Nunca, e nunca crescia. Quem fosse com ele, seria criança para sempre, imagine só? Uma vida inteira só de chiclete, brinquedos, sonhos. Uma vida em que o único problema fosse o da matemática. Seria pedir demais, não é? Sim. Só crescendo vivemos coisas diferentes, conhecemos pessoas, erramos – muito, aprendemos – muito, vivemos. É o cliclo da vida, não se pode querer mudá-lo. É o que precisamos. Mesmo assim, posso apostar que qualquer um de nós, desde os que acabaram de sair da infância até os que quase não se lembram dela, gostaríamos de pedir, pelo menos por um dia: Peter Pan, ainda dá tempo de ir com você?