Naquela manhã acordei como se tivesse acabado de fechar os olhos – eu realmente precisava levantar daquela cama? Bem, o meu despertador jurava que sim. Quem precisa de um bom dia? Ignorar broncas, tropeçar em um sapato jogado no chão e abrir a geladeira sem sentir vontade de comer absolutamente nada parecia muito apropriado para uma segunda-feira pós término de namoro.
Que tal um banho? Chorar enquanto a água do chuveiro escorreria sobre o meu corpo parecia uma proposta tentadora, mas minha promessa de não mais deixar escapar tristeza em forma líquida a tornava impossível. Um banho rápido, uma roupa qualquer e um blush – quebrado – no rosto.
Eu realmente gostaria de ter me lembrado onde coloquei o outro pé do meu All Star na última sexta. Tanta coisa que eu gostaria de esquecer, por que meu cérebro – e meu coração – insistem em guardar apenas coisas idiotas? Bom, ótimo. Lá estava ele, bem na minha cara, debaixo do meu vestido preto jogado embaixo da cadeira. Por que – mais uma vez – eu não lembro como ele foi parar ali? Talvez eu tenha passado o final de semana ocupada demais tentando parar de chorar.
Bem, hora de partir, eu ainda não era rica o suficiente para não ir pra aula. Naquele dia o caminho até o colégio parecia mais comprido do que de costume, as árvores que antes me cumprimentavam pareciam rir da minha cara:
- Aquela não é a idiota que perdeu o namorado para a melhor amiga?
Uma vantagem de chegar atrasada: poucas pessoas no corredor. Eu realmente não queria conversar com ninguém sobre o que havia acontecido no final de semana. Eu poderia guardar esse segredo pra sempre. Mas bem, para isso eu teria que matar todos os envolvidos, e eu realmente não queria olhar na cara desses até o dia em que eu me tornasse uma garota invejável e estivesse em pelo menos dez capas de revista diferentes. Nunca.
- Desculpe pela demora professor, posso entrar?
O fundo parecia o lugar mais apropriado para mim naquele momento, embora o meu lugar ainda estivesse aparentemente vazio. Vejo que eu não fui a única a chegar atrasada.
Contas. presidentes. átomos.
Isso foi sinal do intervalo? Ninguém sentiria minha falta lá fora e eu realmente estava com sono. Quinze minutos de uma soneca sem interrupções…
- Danie, você está bem? – Aquela voz era familiar, aquele cheiro também.
- Matt, não acredito, você voltou! – Aquele foi o abraço mais forte que dei em toda a minha vida.
- Você não sabe o quanto senti sua falta.
- Na verdade eu sei, eu senti isso ao quadrado.
Eu estava quase chorando, quando lembrei o quanto consigo ser engraçada – e não idiota – com aquele cara por perto. Eu realmente senti falta do melhor amigo.
- Quando você voltou? Porque não me ligou ou mandou um e-mail? Eu realmente precisei de você nesse final de semana.
- Eu queria fazer uma surpresa, e você sabe, eu não queria causar problemas com você e o… Ele não terminou a frase, abraçou-me novamente e disse que agora tudo ficaria bem, ele realmente estava de volta.
Quinze minutos se passaram tão rapidamente.
Enquanto ele trazia a carteira para o meu lado, notei o quanto seus músculos tinham crescido nesse tempo que estivemos longe um do outro. Eu poderia fingir que aquele peitoral era um enorme travesseiro e chorar até que minhas últimas lágrimas secassem.
Durante as duas últimas aulas, ele me contou sobre a sua viagem e como foi incrível conhecer o outro lado do planeta.
- A propósito Danie, o que você fez nesses últimos meses?
- Perdi minha virgindade com um idiota que me trocou por minha melhor amiga, ou perdi minha melhor amiga para um idiota que tirou minha virgindade. Como preferir.
- Ele apertou minha mão e sorriu como se nada daquilo fosse importante. Eu realmente queria acreditar nele.
- Você almoça lá em casa hoje? Minha mãe vai adorar te ver.
- Eu realmente não posso, tenho que resolver algumas coisas com o diretor e depois ensaiar. – Eu tinha me esquecido que o meu melhor amigo agora era um ator de verdade.
- Te vejo mais tarde então?
- Eu passo na sua casa a noite, como sempre.
Embora ainda existisse algo morto entre meu estômago e meu coração, eu me sentia melhor. Jogar a mochila no sofá, comer sem respirar e deitar na cama até eu sentir vontade de levantar. Novamente, nunca.
And it breaks my heart, and it breaks my ha-ah-ah, art, And it breaks my ha-ah-ah, ah-ah-aart - Esse é o meu celular e essa é a mania que ele tem de tocar sempre que eu não quero atender.
Vejam, era o número de uma dos vértices do meu triângulo amoroso. Desgraçado.
Eu não via problema em deixar o celular tocando, afinal, aquele toque era minha música predileta. Regina Spektor me entenderia.
Eu voltaria a dormir, se minha não tivesse gritado:
- Danieeeeeeeee, alguém está na porta chamando por você.
Eu sempre odiei os gritos da minha mãe, mas aquelas palavras foram realmente necessárias. Levantei correndo e fui a caminho a escada, tinha que ser o Matt. Enquanto ele subia, eu – como de costume – sentei no último degrau, aquele era o nosso local preferido da casa. Sempre ficávamos conversando por – imperceptíveis – horas. Embora eu estivesse feliz pela presença daquele meu velho – melhor – amigo, comecei a sentir um estranho enjôo no estomago. Era hora de desabafar, de mexer em feridas que ainda sangravam dentro de mim. Mas tudo aquilo era preciso: Matt era o meu Merthiolate.
- Que bom que você chegou.
- Desculpa pela demora, você sabe como é o diretor, esquece de parar de falar. Mudando de assunto, acho que precisamos conversar sobre assuntos seus. Quero você desabafe, chore, me abrace, me morda e grite.
- Matt, sei perfeitamente que em algum momentos tocaríamos nesse assunto. Você se importa se eu não entrar em detalhes? É tudo muito recente e estranho pra mim.
- Claro que não Dan, os detalhes seus olhos me dizem. Não se preocupe, conversaremos quando você puder e quiser. Ah, quase esqueci, trouxe sorvete de creme, embora eu ainda não tenha encontrado gosto nesse sabor, sei que é o seu predileto.
Enquanto preparava os potes para colocar os sorvetes, fui desabafando.
- Sabe Matt, é como se eu tivesse perdido meu dois braços, e acredite, a parte realmente difícil é não poder pegá-los de volta. Dói tanto que eu tenho vontade de esquecer e ligar para os dois fingindo que nada aconteceu.
- Mas é claro que você não vai fazer isso…
- Eu nunca fui a melhor namorada do mundo, muito menos a melhor amiga, mas juro que fiz tudo que podia para ser e fazer feliz. É realmente muito estranho ver duas das pessoas que mais amo no mundo se amando.
- Veja pelo lado bom, você me ama e eu te amo. Somos uma dupla como nos velhos tempos, você lembra?
Eu conheço o Matt desde quando eu usava óculos e andava só de calcinha pela casa. Sua mãe o trazia para brincar com meu irmão, mas ele nunca foi muito fã de videogames. Nossas brincadeiras inventadas sempre foram mais interessantes. Embora eu tivesse tudo a ver com aquele cara e o perfume dele fosse viciante, sempre o enxerguei como melhor amigo. Ele era sinônimo de sorriso, não de beijo.
Conversávamos sobre coisas aleatórias até que o meu celular tocou novamente. Matt olhou para mim como se quisesse dizer: “Eu sei que é ele, quer que eu faça alguma coisa?” eu apenas balancei a cabeça fazendo um sinal positivo.
- A Danie está ocupada demais – sendo feliz – para falar com lembranças idiotas como você.
Eu estava? Bem eu estava.
u realmente tinha me esquecido o quanto ter um cara – de verdade – do lado era bom.
Tomamos sorvete, conversamos um pouco mais sobre a viagem e por fim, vimos um episódio de uma série americana que amávamos. Ele adorava imitar um dos personagens:
- Danie (toc toc), Danie (toc toc), Danie (toc toc). Já posso entrar no seu coração senhorita lágrimas?
- Seu (ex)nerd musculoso idiota, você nunca saiu dele.
O tempo passou tão rápido, já era hora de dizer adeus de novo. Ele se despediu com um abraço apertado e disse que estaria por perto amanhã cedo. Respirei fundo e fechei a porta. Olá de novo, solidão.
Meu quarto estava uma bagunça. Eu precisava dar um jeito na minha vida – Quem está escrevendo isso eu ou minha mãe? – O fato é que se eu realmente quisesse começar de novo, eu precisaria apagar algumas coisas que me prendiam ao passado. Apagar e-mails, fotos, depoimentos, e por último, arrancar a última folha de todos os meus cadernos da escola. Eu sabia que nada daquilo me faria mais feliz naquela noite, mas eu estava disposta a tentar. Tomei banho – sem pensar em lágrimas dessa vez – e depois de estar vestida com um pijama confortável e pega-frango, fiquei alguns minutos me olhando no espelho do banheiro. Por mais que as coisas tivessem mudado completamente, eu ainda era a mesma Danie de sempre. Indecisa, silenciosa e bipolar.
Foi naquele exato momento que percebi que não me adiantou de nada apagar e esconder todas aquelas coisas. Minha maior lembrança estava naquele reflexo, minha maior lembrança estava dentro de mim. Era hora de mudar meu reflexo no espelho, era hora de parar de lamentar. O que uma tesoura tem a ver com isso? Uma franja pode fazer coisas que você nem imagina.
ZzZzzZzZzZzZzZZzZz
Acordar de madrugada era uma MERDA, acordar triste de madrugada era… Bem você sabe como é.
Pegar o celular para escutar músicas depois de ir um milhão de vezes na cozinha e voltar correndo com medo do escuro parecia uma boa ideia. Meu celular só tinha músicas com as palavras amor, love, você e eu, paixão… Preciso dizer mais alguma coisa? Lá vou eu mergulhar de novo – dessa vez de bomba – nas minhas lembranças.
Eu ainda conseguia sentir o perfume do Phelipe – acho que ainda não apresentei o idiota da história como deveria pra você vocês – no meu quarto. Isso só piorava as coisas.
As pessoas costumam dizer que tentar esquecer alguém não funciona, isso definitivamente não é verdade, nós conseguimos sim esquecer o outro, mas em pedaços, aos poucos. O problema é que nossa memória tende a apagar primeiro o que mais doeu. O que sobra então? Os abraços, os olhares, o perfume e o sorriso. Por isso os primeiros dias de solidão são sempre os mais dolorosos. Adormeci enquanto me odiava por não conseguir adormecer.
Tudo novo, de novo.
Bom dia árvores idiotas. Bom dia pessoas idiotas que ficam me olhando como se eu fosse a Lady Gaga vestida de carne. Bom dia carteira. Bom dia meu amo… Péssimo dia. Ele veio, eu podia sentir aquele perfume a quilômetros de distância. Atrás daquela parede amarela estava uma espécie de dispositivo que fazia meu coração disparar e queimar, digo, meu ex.
Respirar, olhar pra frente, rebolar. Respirar, olhar pra frente, rebolar.
Eu teria conseguido se ele não tivesse gritado meu nome. Ah, aquela voz. Respirei fundo e virei para trás como se eu não soubesse quem era o dono daquele timbre insuportavelmente gostoso.
- Nós precisamos conversar. – Sério Phelipe? Acho que na verdade eu quero te matar. Eu teria dito isso, mas a única coisa que saiu da minha boca foi:
- Quando?
- Agora, venha comigo. – Aquela sim era uma proposta tentadora, mas eu não poderia fazer isso. Por mim, e agora, por Matt. Ele não sentiria orgulho de me ver voltando atrás. Ok, algumas palavras e algumas verdades não fazem mal a ninguém. Lá vamos nós de novo.
Quando chegamos ao fundo da escola ele parou bem na minha frente e ficou me olhando nos olhos.
- O que foi? – Disse enquanto tentava não olhar para aqueles olhos azuis cor de céu.
- Eu sei que você está chateada comigo e não quer mais ver minha cara, te entendo. – Curioso. O idiota do século me entendia. – Eu admiro muito você, e se quer saber ainda te amo.
- Você o quê?
- Escute Danoni – o babaca costumava me chamar assim desde que eu derramei Danone em toda a sua jaqueta de Educação Física, acho que era uma espécie de punição – eu apenas não estou mais apaixonado por você. Eu não me imagino sem você, por isso tive medo de te contar antes. Medo de te perder. – Eu não consegui dizer nada, mas juro que quanto ele dizia aquela frase se passavam milhares de perguntas na minha cabeça. Por que os homens são tão bons em enganar idiotas apaixonadas?
- Eu realmente não me orgulho do que fiz, você tem todo direito de me odiar. Quero apenas que saiba que você ainda faz parte de mim, que nossa história foi a mais incrível que já vivi.
- Que ótimo, pois pra mim não foi. Fique aí com o seu final feliz – que eu costumava chamar de melhor amiga – porque a minha história definitivamente não terminou aqui.
Saí sem olhar para trás fingindo que nada daquilo havia acontecido. Pensei, Matt meu filho você precisa parar de chegar atrasado, mais uma dessas e eu não aguento. Surpresa, ele já havia chegado.
- Você estava aí? Nem te vi chegar. – Disse eu com o sorriso de eu-não-estava-falando-com-meu-ex, acredite em mim.
- Eu te vi, mas te achei ocupada demais para atrapalhar. – Droga, não funcionou.
- Ele me chamou para conversar, acho que realmente precisávamos conversar sobre algumas…
- Dan você não precisa me explicar nada, é sua vida, seus sentimentos e principalmente, o seu ex. Ah, e olha, sua melhor amiga – apontou ele para a porta.
- Ex! – Fiz questão de ressaltar.
- Que seja, a aula vai começar, assente-se por perto.
Mais presidentes. Mais átomos. Mais contas.
Intervalo? Por favor, não. Eu realmente não quero levantar dessa carteira e olhar para trás. Eu precisava ser confiante e parecer feliz. Sentei na mesa de Matt e conversei sobre assuntos irrelevantes. Rir ao falar sobre o tempo? Essa era minha tática de mocinha-feliz-sem-passado. Usar meu melhor amigo para esquecer barra impressionar barra judiar do meu ex-namorado era maldade, mas eu não tinha outra opção.
No caminho de volta pra casa Matt perguntou sobre a nossa conversa e eu disse exatamente o que tinha dito e escutado.
- Esse cara é um idiota. Eu realmente não sei como você foi se apaixonar por ele. – Fora os músculos, fora o sorriso, fora o cheiro, fora o bom humor, eu também não sabia o porque.
Matt morava longe, mas fazia questão de me levar todos os dias até a esquina da minha rua – na verdade ele parou de fazer isso quando comecei a namorar.
- Obrigada por estar sempre do meu lado, amigo.
- Eu é que tenho que agradecer por você emprestar o seu sorriso para os meus olhos – disse ele me fazendo cosquinhas sem parar. – Qualquer garota acreditaria que frases como aquela eram de um cara apaixonado. Não era assim, era o Matt. Meu melhor amigo fofo.
A aula havia acabado mais cedo, então, provavelmente naquele dia eu almoçaria com toda a família.
- Mãe, cheguei!
- Oi filha, como foi na aula? – Contar uma história típica de filme de sessão da tarde minutos antes do almoço? Não.
- Normal Mãe, o de sempre.
- Você está diferente, eu realmente acho que aconteceu alguma coisa. – Mães espertas são realmente um problema.
- Sério mãe, eu só tô cansada. Esse final de semana foi exaustante.
- Pois descanse, seu pai deve chegar amanhã e tem uma surpresa pra você.
Eu queria com todas as forças que a última invenção maluca do meu pai fosse uma máquina do tempo e que essa fosse a grande surpresa.
- Cadê o Wesley?
- Seu irmão saiu com alguns amigos, deve almoçar fora.
- Ótimo, eu como a carne dele. – Por mais que eu tivesse pena das pobres vaquinhas e porquinhos, EU AMAVA CARNE. Meu peso sempre esteve diretamente ligado com o estado emocional. Embora a maioria dos caras me considerassem a garota mais peculiar que já haviam conhecido até então, eu não era, nem nunca fui a mais bonita. Eu sempre me senti diferente, mas não como as outras garotas que queriam parecer diferente, eu simplesmente era, por dentro, por sotaque, por sorriso, por alma.
Liguei meu notebook e pensei, por que não dar uma espiada em como anda a vida virtual das pessoas? Na verdade o status do relacionamento do meu ex. Namorando? Comigo ou com minha melhor amiga? Será que ele não teve tempo de entrar na internet ou teve tanto tempo que já fez as mudanças necessárias? Aquela dúvida me corroeu. Hora de escrever. Vamos esquecer.
Escrever e esquecer são duas palavras que embora parecidas, não funcionam juntas. Enquanto eu escrevia, eu me lembrava. Enquanto eu me lembrava eu sentia necessidade de escrever. Organizar aquelas palavras que ainda queimavam no meu estômago e misturadas novamente com meus sentimentos eram uma dor necessária.
Eu realmente queria saber dizer o mesmo tanto que sabia escrever.
- Olha, um recado do Matt na minha página:
Baixando…
Pesquisei na internet e descobri que Evan é o melhor amigo da Avril Lavigne, minha cantora predileta. Que por sinal, é quem canta uma das músicas tema do meu antigo romance. Aquilo me deu uma vontade louca de escutar aquela música mais uma vez… Ops, melhor não, hora de dormir.
ZzzZzZzZzZzZzzZz
A semana passou assim, entre lágrimas, lembranças e sorrisos ao lado de Matt. Eu realmente queria fazer alguma coisa interessante no final de semana. Queria descobrir um novo motivo; ter aquela empolgação guardada na lembrança pra poder esquecer de vez e pensar: por que estou tão entusiasmada mesmo?
Meu pai não havia chegado como minha mãe havia dito, no-vi-da-de. Desde que o meu pai começou a trabalhar em um novo projeto maluco, que eu não sei como se diz o nome, ele nunca mais foi o mesmo. Eu percebia o olhar triste da mamãe, mas eu era egoísta o suficiente para me preocupar apenas com os meus problemas.
- Danieeeeeeeeeee, telefone pra você!
- Não precisa gritar mãe. – Eu tinha a sensação de ficar dez anos mais velha toda vez que ela gritava comigo.
- Alô?
- Oi Dan, aqui é o Matt. Posso te fazer um convite? – Uma coisa interessante e legal para o final de semana por favor, por favor, por favor!
- É o seguinte, todo começo de bimestre rola um acampamento no sítio em que o meu pai trabalha, é super divertido já fui várias vezes. O lugar é lindo e tem vistas incríveis. Vem comigo? – Passar o final de semana no meio do nada com o meu melhor amigo? Por que não?
- Claro! Eba! Obrigada por me chamar, agora já tenho um motivo para estar feliz.
- Quer dizer que o sítio é um motivo mais empolgante que eu?
- Ah Matt, você entendeu.
- Certo, passo na sua casa para te buscar mais tarde.
- Combinado.
Óculos de sol, mp4, protetor solar, chicletes… Mala pronta.
- Manhêêêêêê, sua filha de dezesseis anos vai acampar com o melhor amigo dela.
- Os pais deles estarão lá?
- Claro, mãe.
- Juízo menina, você não quer ter todos esses seus pequenos problemas multiplicados por dois, quer? – Eu não preciso ter um filho para ter meus problemas multiplicados por dois, eu preciso ter uma melhor amiga piranha.
Claro, eu não disse isso, apenas concordei com o que ela disse e fui para a sala esperar minha carona. Alguns minutos depois ele chegou sorridente. Eu conseguia sentir o seu perfume doce do último degrau da escada.
- Venha, me ajude.
- É pra já senhorita. – Ele pegou minhas duas malas com apenas uma mãe e sorriu me puxando com a outra. Quando meu melhor amigo tinha se tornado um cara gostoso? Isso era inacreditável. Ele sempre foi o nerd, com espinhas e aparelho da sala.
- Olá pais do Matt, olá cachorrinho fofo do Matt.
Depois de meia hora de viagem, o silêncio havia tomado conta do veículo. Enquanto a paisagem passava pelo vidro do carro, não pude deixar de sentir falta de Phelipe. Nós costumávamos sair sem destino pelas estradas da redondeza sempre que a tarde parecia monótona. Acho que ele resolveu fazer isso com o nosso namoro, sair sem destino por aí. Eu odiava muito estar ali perdida e – quase – sozinha.
- Ohh Matt, acredita que não consegui?
- Tudo bem, eu tenho ela no meu Ipod.
- Ótimo – respondi enquanto virava mais um gole de Wisky.
Eu nunca fui boa em inglês, mas o ritmo daquela música realmente era lindo.
Ele se aproximou sorrindo e dizendo:
- Acho que exageramos.
- Exagerar na doze de felicidade nunca é demais – Eu e minhas frases prontas idiotas.
Enquanto eu falava coisas sem sentido, ele segurou minhas mãos e olhou para mim como se não estivesse escutando alguma palavra sequer, apenas observando o abrir e fechar da minha boca.
- Ei Matt, presta atenção em mim. – Reclamei.
- Foi isso que eu fiz durante dezesseis anos.
Essas palavras entraram pelo meu ouvido e chegaram até o meu coração, bagunçando todas as minhas certezas e fazendo com que eu sentisse uma estranha vontade de beijar aquela cara. Ops, o meu melhor amigo. Era uma sensação estranha, como se o meu cérebro estivesse lutando contra o meu coração.
- O que você quer dizer com isso? – Meu coração já tinha certeza, mas meu cérebro teimoso insistia em questionar.
- Quer dizer que eu amo você.
Aquelas palavras alcançaram algumas feridas em processo de cicatrização, mas, naquele momento eu já não conseguia pensar no que era passado ou o que era presente e possível futuro. Naquele momento eu só queria corresponder aquilo.
Senti o meu corpo arrepiar quando Matt começou a acariciar o meu rosto. Nós naquele momento estávamos deitados na grama olhando para um milhão de estrelas quando ele disse:
- O brilho do seu olho foi o que eu mais senti falta durante esses meses.
Sem que eu pudesse dizer nada, ele tirou uma mecha de cabelo que estava no meu rosto, e chegou mais perto até que nossos lábios finalmente se encontraram. De alguma forma eu me sentia suja correspondendo aquele beijo, afinal, eu havia terminado um namoro no final de semana passado. Mas, analisando as circustancias esse meu pseudo-adultério não era nada comparado a outros putarias. Se aquela história do Phelipe era realmente verdade, naquele exato momento, eu estava me apaixonando de novo.
Embora beijar o meu melhor amigo parecesse algo errado, eu estava realmente disposta a continuar indo pelo caminho contrário - Afinal, até poucas horas atrás eu estava completamente perdida. Enquanto nossos perfumes se misturavam no ar, Matt beijava o meu pescoço e dizia coisas no meu ouvido. Ele sabia como me deixar arrepiada.
- Posso te levar para um lugar especial? – Aquela era com certeza a primeira vez de Matt, e ele provavelmente criou expectativas para aquele momento. Por mais que eu não conseguisse deixar de me sentir suja concordando e aceitando tudo aquilo, desapontar Matt não era uma opção. Eu cheguei a responder aquela pergunta, mas o meu sorriso e o meu olhar deixaram bem claro que aquela noite era nossa. Matt me pegou – delicadamente – no colo e caminhou por dois minutos para um lugar que distante da cabana.
Uma grande fogueira do lado de uma pequena barraca. Tentar imaginar quando e como Matt preparou tudo aquilo era uma possibilidade que a bebida não me deixou escolher. Seja como for, mas seja.
Sentir o corpo do Matt sobre o meu era uma das sensação única. Embora eu estivesse acostumada dar amassos com o Phelipe, era tudo muito diferente. Meu corpo tinhas suas exatas medidas. A noite passou por nós dois como um lindo e esperado cometa. Talvez já fosse a hora de fazer um pedido.
Forget Phelipe.
No outro dia, quando acordei estava sozinha na cabana. Levantei e me lembrei subitamente do que havia acontecido noite passada. Ressaca-moral misturada com felicidade de apaixonada, alguém precisa de mais alguma coisa para o café da manhã no campo?
Quando olhei pra fora da cabana, lá estava Matt, sorridente brincando com Blue, seu cachorro. Aquele cara era provavelmente o sonho de consumo de metade das garotas da minha cidade – embora a maioria delas provavelmente nunca percebesse isso. Eu não queria parar de apreciar aquela vista, mas o matt sentiu minha presença e se aproximou.
- Você está ai senhora (porque ele começou a me chamar de senhora, até noite passada não era senhorita?) dorminhoca.
- Eu sorri sem saber o que dizer.
- Er… O que aconteceu noite passada… - Vez do Matt de fazer “Shhhh”!
- Você não precisa passar por isso. Nós somos melhores amigos e entendemos um ao outro, lembra? – Eu sorri novamente dessa vez aliviada.
- Eu sempre amei você, e provavelmente agora, estou apaixonada. – Eu disse aquilo, eu não escrevi… Dá pra acreditar?
Enquanto descíamos a montanha não pude deixar de pensar no possível encontro com Phelipe e Alicia (Melhor amiga piranha meninas, meninas melhor amiga piranha). Ele provavelmente perceberia meu sorriso de seu- idiota-não-preciso-mais-de-você-pra-ser feliz. Enquanto Matt me pegava no coloco com a desculpa assim chegaríamos mais rápido – ele tinha a capacidade de me insultar e me divertir ao mesmo tempo – eu sorria e por alguns instantes, me sentia a nova. Danie Feliz pra sempre sempre.
- Ah, phe para com isso, eu odeio quando você faz cócegas assim – Escutei aquela voz irritante de novo… Posso retirar o feliz pra sempre?
Ver os dois juntos e felizes mesmo me sentindo bem com o que havia acontecido na noite anterior, não era nada legal. Phelipe não era o tipo de cara se esquecia com um final de semana, ela era o tipo de cara se lembrava pra sempre. Ser feliz de novo era como ter que apagar um lindo texto e começar a escrever de novo. Do zero.
Matt segurou forte minha mão e passamos juntos por aquela barreira de lembranças.
Todos os convidados do evento haviam ido em uma longa caminhada, a casa enorme estava completamente vazia. Ao chegarmos na cozinha, Matt me pegou no colo e me colocou em cima da mesa.
- O que você vai quer Dan? – Disse ele com um sorrido de capa de revista. Eu poderia responder qualquer coisa, depois de ter bebido tanto na noite anterior, um pouco de leite não faria mal a ninguém. Mas eu sentia que aquele momento era o momento de dizer uma coisa fofa, ele merecia.
- Você – Ele sorriu como se não acreditasse no que estava ouvindo, eu podia perceber sua buxexas rosadas ficarem ainda mais rosadas. Matt sempre foi o mais pálido e magro da turma, mas depois daquela provável temporada de academia, ele estava um lindo garoto-cor-de- leite com cabelo bagunçado.
Enquanto comíamos e conversávamos não pude deixar de olhar pela janela. Será que meu passado ainda estava por alí? Por mais que eu quisesse que não, meus olhos o procuravam como se quiserem encontra-lo.Sozinho. Phelipe provavelmente estava no acampamento porque o seu pai o obrigou, ele nunca foi de sair nesses encontros de família. Depois que seus pais se separaram, ele se tornou o garoto-independente-babaca da cidade. Perdi a conta de vezes que tentei conversar com ele e juntar de novo sua família.
- Oh, vocês estão aí? – Se aproximou Carlos, o pai do tal idiota.
- Olá Senhor Carlos, como vai? Sorri com os olhos de não-me-pergunte-do-seu-filho.
- Você viu Phelipe por aí? – Merda.
- Eu o vi mais cedo no estacionamento, mas não sei ele está agora.
- Achei estranho que vocês não viessem juntos. Ele está com uma garota, acho que me lembro dela com você, sua amiga não? – Minha vontade era ser mal educada e responder meia dúzia de palavrões. Mas o senhor Carlos não tinha culpa do filho idiota que tinha.
- É, acho que nos desencontrados. – Pra sempre, pensei.
Ele sorriu, pegou um biscoito e saiu da casa da mesma forma que entrou. Do nada.
Olhei para Matt e dei um sorriso de eu-estou-bem querido.
- Vamos na cachoeira?
- Aqui tem uma cachoeira?
- Sim e não é muito longe. Pegue sua câmera, a paisagem por lá é incrível.
Matt era lindo, sabia exatamente do que eu precisava e tenho certeza que nunca me trocaria por ninguém. Porque eu não posso simplesmente gostar SÓ dele? Era uma tortura beijá-lo quandos meus pensamentos ainda estavam no passado, no Phelipe. Mas, considerando a probabilidade de encontrar um novo amor aquela minha única – e músculosa - opção.
No caminho, enquanto fotografava algumas imagens e Matt atrapalhava aparecendo em todas fazendo careta, o tempo passava devagar e a cada passo eu me sentia mais longe de tudo aquilo que não fazia parte de mim. Eu realmente estava me divertindo. Eu já consegue escutar o barulho da água, era uma questão de tempo que pudéssemos mergulhar quando escutamos um grito:
- Matt, onde você está? – Era sua mãe, ela distância do grito provavelmente estava na casa.
- Você se importa de eu ir ver o que ela quer? Você pode ficar aqui, eu vou e volto bem rápido.
- Ok antigo senhor músculo de ferro e atual Flash. – Eu sempre me dei melhor com os homens, então conhecia o suficiente sobre a cultura deles: Jogos, desenhos e personagens.
Enquanto Matt desaparecia entre às arvores, não pude deixar de perceber que eu estava sozinha de novo. Não que eu fosse medrosa, muito pelo contrário, sempre me senti melhor sozinha. Mas estar longe de Matt naquele momento significava pensar em coisas. E pensar coisas significava… Sofrer. Eu estava bem, mas não ainda pronta para ser feliz. Talvez meu coração precisasse respirar entre um amor e outro. Entre um suspiro e outro percebi que alguém se aproximava.
- Quem está aí? – Perguntei aflita.
- Sou eu Danoni. – Droga, aquela voz ainda fazia o meu coração tremer.
- O que você faz aqui?
- Preciso conversar com você.
- De novo? Não ficou satisfeito com nossa última conversa? – Perguntei quase sem paciência.
- Não. Não acho que as coisas entre a gente tenham se resolvido com aquela conversa.
- As coisas entre a gente não precisam mais se resolver. Elas simplesmente acabaram.
- Você não acredita nisso, nós não acreditados. – Disse ele se aproximando e sentando ao meu lado. – Olha Danoni, eu realmente me sinto mal em estar longe de você. Tudo que passamos juntos e a forma com que terminamos, ainda está entalado na minha garganta.
- Ótimo – disse eu com um tom irônico – você já tem alguém pare de ajudar a engolir e digerir tudo isso.
- Você também, certo?
- O que eu faço, sinto e penso não te interessa mais. Nós deixamos de ser dois quando você fez com que nos tornássemos três. – Disse com uma lágrima prestes a cair. – Não é justo você aparecer toda hora na minha frente e bagunçar ainda mais meus sentimentos. Por favor. Volta de vez ou desaparece pra sempre. – Eu realmente estava ficando boa com essa coisa de dizer e não escrever.
- Eu quero apenas te ter por perto.
- Nessas duas últimas semanas eu já quis tanta coisa, e acredite, nesse exato momento você não é uma dessas coisas.
Vi que naquele momento uma lágrima saiu dos seus olhos. Eu nunca tinha visto o Phelipe chorar, mas depois de uma semana fazendo isso sem parar, aquela cena me aliviou. Sinta minha falta desgraçado.
Ele se levantou e desapareceu instantes depois pela mata.
Solidão, quanto tempo.
Todo mundo, querendo ou não, paga um preço quando começa a fingir que está feliz. Comigo não era diferente. Por mais que eu quisesse seguir em frente, aquelas frequentes conversas com Phelipe me tornavam cada vez mais dependente de lembranças. E não era apenas aquilo. Desde que tudo aconteceu, eu ainda não tinha tido tempo de sentir falta da minha – ex? – melhor amiga. Depois de mais de uma semana, aquele sentimento de raiva começou a se desgastar, e os seus conselhos começavam a fazer mais falta do que deveriam fazer. Nós nos conhecíamos desde sempre. Se aquela idiota não fosse o principal motivo de tantas lágrimas, ela me entenderia perfeitamente.
Enquanto eu observava a paisagem, Matt apareceu com o lindo sorriso de sempre e disse:
- Minha mãe não estava conseguindo encontrar uma de suas milhares de malas. Vamos?
- Claro. – Sorri enquanto levantava e limpava o meu vestido.
Caminhamos mais cinco minutos por uma trilha abandonada, embora o céu naquela manhã estivesse sem cor, o dia parecia perfeito para um mergulho sem muitas pretensões. Percebi enquanto conversávamos que Matt já não despertava em mim os mesmos sentimentos de sempre. Se antes ele era uma espécie de solução, naquele momento parecia mais incógnita com valor oculto. Eu estava cansada de tentar descobrir o resultado de tantas divisões e subtrações. Não me importava mais quantos vértices tinha aquele triângulo – que mais parecia quadrado – eu começava a querer ser apenas um ponto perdido no universo.
Conversávamos sobre algum assunto irrelevante quando finalmente chegamos a beira de uma linda lagoa. Ficamos lá sentados durante alguns minutos. Eu gostava de fechar os olhos e fingir que nada entre eu e Matt tinha mudado. Eu apenas escutava suas palavras e as entendia sem usar o coração. Aquele cara ainda era apenas o meu melhor amigo. Eu tinha vontade de gritar aquilo enquanto ele dizia que me amava de uma forma diferente, mas eu me mantinha em silêncio. Fazer ele sofrer ainda não era uma opção.
- Vamos mergulhar? – Disse ele enquanto tirava a camisa e exibia um corpo – graças à bebida da noite anterior – quase completamente desconhecido pra mim. Os meses de provável academia na Inglaterra e uma nova tatuagem que cobria quase todo o braço fizeram com que Matt ficasse ainda mais atraente. Se eu não o conhecesse tanto, ele provavelmente seria “o meu tipo.”
Aquela tarde passou sem que pudéssemos perceber.
Enquanto esperávamos seus pais já dentro do carro, encostei minha cabeça no ombro de Matt, eu estava realmente exausta. Ele vestia um moletom azul marinho e sua barba estava por fazer, o calor do seu corpo foi o que me manteve quente por aqueles longos minutos de silêncio. Eu já estava quase adormecendo quando percebi o carro andar. Era hora de voltar para casa.
- Te vejo amanhã? – Disse no ouvido de Matt enquanto ele tirava minhas malas do porta-malas.
- Como sempre. – Depois de um demorado selinho, acenei para os Hans e corri para a porta de casa.
Morar perto do centro tinha suas vantagens e desvantagens; meu novo affair seria o assunto de toda a rua. “Ela já terminou com aquele bonitinho?” Outra coisa me preocupava: Ter que descrever o final de semana para minha mãe. De alguma forma eu sempre voltava dos lugares de mal humor.
Eu ainda não tinha terminado de desmanchar minha mala quando o telefone de casa tocou.
- Alou? – Disse sem paciência enquanto descascava o esmalte preto que restava na unha.
- Filha é você? Que saudade… É o papai. – Por mais que meu já não fosse tão presente em minha vida, eu jamais esqueceria a voz dele.
- Oi Pai, por que você não volta logo pra casa? – Alguém precisava ser direta e dizer a verdade naquela casa.
- É uma longa história filha, mas eu já estou a caminho. Devo chegar em casa em algumas horas, e escute só, tenho uma surpresa pra você. – Bem que podia ser um novo coração, imaginei.
- Eu e mamãe sentimos sua falta. Não nos desaponte mais uma vez.
- E o seu irmão?
- Ah, ok… O meu irmão também. – Eu nunca me lembrava que tinha um irmão.
Desliguei o telefone e fui logo contar a novidade para minha mãe.
- Mããe… – Gritei enquanto me aproximava da porta do seu quarto.
- Filha, você estava aí? Quando você chegou? – Eu já me sentia arrependida por ter me manifestado.
Minha mãe não ficou tão animada como de costume quando disse que papai chegaria naquela noite. Ela provavelmente havia cansado de criar expectativas e simplesmente ter que engoli-la com o vento em seguida. Meus pais se amavam, disso eu não tinha dúvida, mas tanto trabalho fez com que a distância adormecesse o amor que sentia um pelo outro. Uma pena.
Depois de um banho quente e algumas palavras escritas e logo apagadas no vapor que se formava no espelho do banheiro eu me sentei na frente do computador enquanto terminava de pentear o meu longo cabelo. A internet não estava funcionando, meu irmão provavelmente havia aprontado uma das suas. Sem internet, me senti tentada a bisbilhotar algumas imagens e históricos que sobraram da minha última operação sem-passado.
24/03/2010 23:33:55
De Phelipe para Danie:
Oi Meu amor, como você está? Vi sua mensagem agora e estou com pena de ligar e te acordar. Não tenha medo de me perder, eu nunca deixarei você sozinha. Pare com essa mania de ver adeus onde só existe eu já volto. Eu estou deixando sinais de despida para você. Odeio te ver insegura. Eu sou viciado em Danoni, esqueceu? Te vejo amanhã cedo na aula. Guarda meu lugar se ler isso ainda hoje.
Eu ficava imaginando se quando ele escreveu aquilo ele já não gostava de mim, eu ficava imaginando se um dia ele já havia realmente gostado de mim. Aquele sorriso das fotos parecia tão verdadeiro – e eu parecia tão idiota.
Eu já quase adormecia quando escutei a voz rouca do meu pai. Muitos beijos, abraços e uma inesquecível surpresa: um lindo vira-lata branco e preto que ele havia encontrado abandonado na estrada. Aquilo não era um novo coração, mas era um motivo para eu sorrir de verdade naquele resto de noite. Mesmo estando sempre longe, meu pai sabia como me fazer feliz.
Era realmente muito bom estar perto de um homem que me amava de verdade sem esperar nada por isso.
Deixei meus pais e meu irmão conversando na cozinha e levei o meu mais novo amigo para o quarto. Aquele pequeno animal ainda sem nome escutaria muitos desabafos naquela noite. ( CONTINUA) :*